Hoje é Dia dos Avós. Mas esse é um post para celebrar AS avós. Afinal, o que seria de nós sem elas? Na Antropologia, a “hipótese da avó” já explora suas contribuições para a família e a sociedade e reconhece a importância delas para a evolução humana ao desempenharem seu papel de cuidadoras suplementares, coletando alimentos, alimentando, educando e permitindo que as mães tivessem mais filhos.
Ter mais filhos não parece ser mais um objetivo, visto o decréscimo das taxas de natalidade em todo o mundo. Inclusive, segundo último reporte do World Population Prospects, na próxima década o número de pessoas com 80 anos ou mais será superior às crianças com 1 ano ou menos de idade. Projeções à parte, as avós continuam carregando um piano.
Na minha pesquisa, conduzida com pessoas idosas em um bairro de classe média em São Paulo, eram as avós que cancelavam prontamente suas atividades para cuidar dos netos quando os filhos tinham alguma emergência. Dessa maneira, os filhos podiam seguir trabalhando enquanto suas mães idosas entravam em cena. Em outros casos, o suporte não era emergencial, mas rotineiro. Era o leva-e-traz dos netos, o acompanhamento no período fora da escola ou mesmo o final de semana institucionalizado para que os pais, “que trabalham”, possam descansar.
Essa é uma contribuição fundamental, mas muitas vezes invisível. Reconhecer que há um trabalho nesse arranjo é urgente. A Suécia fez um movimento nesse sentido permitindo que pais transfiram parte dos dias de licença remunerada para cuidadores como os avós. Além do reconhecimento financeiro e social do trabalho dos avós, há ainda uma questão a ser resolvida no âmbito familiar.
As avós da minha pesquisa reclamavam que seus saberes eram considerados obsoletos. As filhas preferiam recorrer a sites e especialistas na internet. Como uma médica pediatra aposentada, muitas silenciavam para evitar uma briga. A falta de diálogo com as filhas iniciava uma série de acordos velados, resultando em combinados compartilhados como “segredos” entre avós e netos – como os chocolates a caminho da escola. Por último, havia ainda a questão física. Crianças demandam fisicamente as avós. Algumas delas confessavam que, ao final da tarde em que os netos estavam sob seus cuidados, estavam exaustas.
Essas avós enfrentavam dificuldades para impor algum limite às demandas por seu suporte. Isso porque elas não se identificavam exclusivamente como avós em seu papel de cuidadoras suplementares. Uma delas precisou lembrar à filha: “eu tenho uma vida”. Às vezes, essa vida ainda tinha de comportar o trabalho como cuidadora dos pais idosos. Ainda assim, havia uma vida na qual elas encontravam um propósito e conseguiam reconhecimento, principalmente a partir de seu trabalho como voluntárias. Do curso de smartphone que promoveria a inclusão digital de outras avós à recepção de famílias em um hospital especializado em câncer, as avós eram incansáveis. E as avós da minha pesquisa não estão sozinhas.
As avós são as protagonistas da iniciativa Friendship Bench do médico psiquiatra Dixon Chibanda. Frente às altas taxas de depressão e suicídio no Zimbabwe e sem recursos para enfrentar os desafios de saúde mental no país, Dixon recrutou e treinou as avós das comunidades para proverem atendimentos básicos em Terapia Cognitiva Comportamental. Bancos instalados ao ar livre passaram a sediar esses encontros e lá estava sempre uma avó, novamente em seu papel de cuidadora suplementar. Nesse caso, cuidadora complementar de saúde, em um projeto que já atendeu mais de meio milhão de pessoas e celebra o marco de redução de 78% em índices de depressão e suicídio. O documentário da iniciativa ganhou essa semana o SAGE Award for Encounters Refinery Best Edited Film. Veja o trailer aqui e celebre as avós à sua volta.