Reconhecendo a centralidade e potencial de impacto do WhatsApp.

Segundo pesquisa Mensageria no Brasil (MobileTime & Opinion Box, 2022), o WhatsApp está instalado em 99% dos smartphones no Brasil. 88% dos brasileiros utilizam o aplicativo todos os dias. 81% se comunicam com marcas e empresas via o app. 75% participam de grupos de família e 66% participam de grupos de trabalho.

Durante a pesquisa de campo que embasou minha tese de doutorado e o livro “Ageing with Smartphones in Urban Brazil”, conduzida com participantes entre 50 e 76 anos de um bairro de classe média de São Paulo, entre fevereiro de 2018 a junho de 2019, observei que:

• O WhatsApp era o drive para adoção de tecnologia mobile por pessoas idosas, motivadas pelo desejo de se comunicarem com familiares e amigos – um achado respaldado também na literatura acadêmica. O WhatsApp era o primeiro aplicativo que tinham interesse em aprender. Por barreiras na adoção de outras tecnologias, muitos dos participantes da pesquisa concentravam os usos que faziam dos smartphones no aplicativo.

• Os grupos de WhatsApp estruturavam uma poderosa rede de inteligência e apoio, onde os participantes da pesquisa compartilhavam informações úteis aos pares e oportunidades de atividades ligadas à agenda de Envelhecimento Ativo, além de acessarem informações de saúde, orientação médica de amigos que trabalhavam na área da saúde e suporte que extrapolava a esfera online.

• O WhatsApp era usado pelos participantes que assumiam o papel de cuidadores de pais idosos tanto para coordenar cuidados quanto para monitorar os pais a distância em um misto de cuidado e vigilância que muitas vezes permitia que pais idosos continuassem morando em suas casas com certa autonomia.

• O WhatsApp também era amplamente usado pelo ecossistema de saúde de São Paulo, mesmo antes da regularização da Telemedicina no Brasil, para o atendimento de pacientes e para a consulta de médicos com colegas.

Com base nessas observações, desenvolvi entregas aplicadas que colaborassem para a saúde e qualidade de vida da população que estudei. A decisão de alocá-las no WhatsApp reproduz a preferência desses usuários e aquilo que aprendi na prática com as apropriações que fazem desse aplicativo. Além disso, essas entregas contam com a vantagem de dispensar a adoção de uma nova tecnologia, considerando que as pessoas idosas usuárias de smartphones são, em primeiro lugar, usuárias de WhatsApp.

Neste sentido, essas entregas são também um exercício de empatia, na valorização do que a pesquisadora Katrien Pype chamou de “inteligência de baixo“. Em contraposição ao desenvolvimento de soluções top-down, essas entregas apresentam alternativas para alocação de importantes recursos de saúde no aplicativo com o qual pessoas idosas mais possuem familiaridade – um caminho para empresas e gestores públicos que busquem impactar esse grupo etário de maneira imediata e efetiva.

 

Guia de Boas Práticas de WhatsApp para Saúde: protocolos de comunicação para hospitais e clínicas médicas.

O Guia de Boas Práticas de WhatsApp para Saúde tem como objetivo servir de referência para as possibilidades de uso do WhatsApp no ecossistema de saúde a partir de práticas formais e informais observadas pela autora em São Paulo durante sua tese de doutoramento.

O material reúne protocolos de comunicação para Hospitais e Clínicas Médicas com instruções passo-a-passo e telas que ilustram os procedimentos para implantá-los no WhatsApp, além de disponibilizar templates de respostas padrão que podem ser customizados na interface com pacientes.

Os protocolos estão organizados em módulos e podem ser implementados de forma independente de acordo com os recursos humanos e materiais do Hospital ou Clínica.

O Guia de Boas Práticas de WhatsApp para Saúde foi traduzido para o inglês com financiamento integral do European Research Council (ERC–2016–Adg–SmartPhoneSmartAging–740472).

 

 

WhatsApp Aplicado à Nutrição: protocolos para Registro Alimentar Visual com uso de Aplicativo de Mensagens.

Esse guia parte de uma ideia simples que fundamenta as iniciativas de automonitoramento (self-tracking) propostas por aplicativos de saúde (m-health apps): o registro e a visualização de dados por pacientes permitem que eles tomem consciência de seus hábitos, capacitando-os para a reflexão e intervenção sobre suas práticas diárias.

Diários fotográficos permitem a visualização de dois fatores importantes para a nutrição: a materialidade (aquilo que se ingere) da comida e sua temporalidade (com que frequência se come). Diários alimentares visuais funcionam como mediadores e como tradutores dos hábitos alimentares (Ruckenstein, 2015).

Esse guia ensina passo-a-passo como construir um diário visual alimentar no WhatsApp.

Anjos no WhatsApp

Anjos no WhatsApp foi uma campanha lançada no início da crise do Coronavírus no Brasil, em março de 2020. Seu objetivo foi mobilizar a população para auxiliar pessoas idosas que residissem sozinhas e que pudessem estar isoladas não só fisicamente, mas da tecnologia necessária para acessar rede de apoio, recursos de saúde e informações confiáveis sobre a pandemia.

Baseada na etnografia que baseou o meu doutorado, alertei para a importância de alocar qualquer esforço dirigido a pessoas idosas residindo sozinhas no WhatsApp, uma vez que esse era o aplicativo se mostrou ser o aplicativo mais usado por este grupo etário, muita vezes de forma exclusiva – para alguns dos participantes, o WhatsApp era inclusive sinônimo de smartphone. 

Os anjos eram voluntários que eram instruídos a procurar pessoas idosas em seus contatos no WhatsApp e eles tinham como funções:
• Estar disponíveis para conversar e checar o estado de saúde da pessoa idosa, se estava se alimentando e dormindo bem;
• Fazer a ponte com recursos de saúde e informações oficiais do Ministério da Saúde que na época estavam alocados no aplicativo Coronavírus SUS, cujo download poderia ser inviável para pessoas idosas em isolamento;
• Fazer dupla checagem de notícias com a finalidade de evitar a disseminação de fake news.
A campanha viralizou e teve abrangência nacional com ampla cobertura da mídia.