Durante minha pesquisa em São Paulo, conheci inúmeras pessoas com 50 anos ou mais em busca de recolocação profissional. Culturalmente, a identidade da cidade e na cidade é construída a partir da valorização do trabalho. Por isso, com constrangimento, esses participantes evitavam o termo “desempregado”. Ao invés disso, invariavelmente preferiam dizer “eu não estou trabalhando no momento”.


Mas o que aconteceria se essas pessoas voltassem à força de trabalho?

Estudo realizado pelo McKinsey Health Institute demonstra uma oportunidade de incremento de 8 pontos no PIB, considerando a média entre os 21 países pesquisados, incluindo o Brasil – variação de projeções de ganho de 1,7% a 14,7%. Estamos falando de um ganho potencial total de USD 6,2 trilhões anuais. E esse ganho não é apenas para a economia.

O mesmo estudo, que entrevistou pessoas com 55 anos ou mais, mostrou que ter um propósito na vida e manter uma rede de conexões estão entre os principais fatores para um envelhecimento saudável. Os respondentes ainda destacaram realização pessoal e sociabilidade como principais motivadores para o trabalho e o voluntariado, além da importância do aprendizado ao longo da vida e da participação na comunidade.

A manutenção da participação na sociedade está ainda relacionada à redução de mortalidade, redução de perdas cognitivas e funcionais, redução de solidão e depressão, aumento de atividade física, melhora de propósito e qualidade de vida.

Um dos participantes da minha pesquisa, com 56 anos e em busca de recolocação profissional, foi preciso em dizer: “Ou a gente aposenta, adoece e morre; ou a gente trabalha, trabalha e morre, mas sem ficar doente”. Eu observei de perto esse adoecer e sua relação com sedentarismo e isolamento. Mesmo entre os aposentados que entrevistei, a euforia do tempo livre durava no máximo dois anos, seguida de um vazio e do desejo de “voltar à ativa”.

A boa notícia é que eles mesmos estão se reorganizando e criando oportunidades de participação, seja via voluntariado ou empreendedorismo, seja ingressando nas atividades abertas pela agenda do envelhecimento ativo em São Paulo. Ainda assim, vez ou outra, um deles dizia saudoso: “eu queria mesmo era um trabalhinho”.


É certo que o trabalho que os participantes da minha pesquisa almejam não é o mesmo.

O novo trabalho consideraria: flexibilidade para conciliar expediente com algum tempo para si mesmos, ambiente acolhedor para aprendizado e desenvolvimento, receptividade para suas contribuições e propósito. E nessa fase o propósito também muda. Eles não querem só vestir a camisa da empresa e perseguir sua missão (e olha que eles são bons nisso de lealdade). Eles querem que essa missão faça sentido para eles e para aqueles que estão envelhecendo como eles. E vale lembrar: estamos todos envelhecendo – o Brasil inclusive e rapidamente. Pensar esse novo trabalho é, portanto, um desafio pessoal e coletivo, local e global.

Por último: vai abraçar o desafio de repensar o trabalho visando a reinclusão e manutenção dos 50+ na sua equipe? Envolva pessoas idosas nesse redesign desde o começo. Pensar com pessoas idosas é sempre mais assertivo do que pensar para pessoas idosas.

Referência:
McKinsey Health Institute. Aging with purpose: Why meaningful engagement with society matters. 

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