Dizem que meu avô paterno foi um péssimo pai e um péssimo marido para as suas duas primeiras mulheres. Eu só o conheci como meu avô, já casado com sua adorável terceira mulher. Não tinha um domingo de jogo do Flamengo que o pote de bombons não estivesse cheio e que o lanche da tarde não fosse cachorro-quente.

Mas a lembrança mais importante que tenho do meu avô é de um Natal.

Eu fui criada em uma época em que criança tinha pouco querer. Meus pais, um economista e uma bióloga, eram bem pragmáticos. Na minha casa, os presentes frequentemente vinham de encontro àquilo que precisávamos. Pois bem. Era Natal e meu avô foi a primeira pessoa que me perguntou o que eu realmente queria. Mais do que isso. Foi ao shopping comigo e meu irmão. Entrou em todas as lojas que quisemos até escolhermos cada um seu presente. Sem pressa. Sem reclamar. Ele participou e apoiou essas nossas escolhas e de brinde fomos ao McDonald’s pela primeira vez.

Meu avô foi a primeira pessoa que reconheceu que eu tinha agência sobre mim, sobre meus desejos e queres. E, ainda pequena, isso me marcou profundamente.

E por que estou escrevendo sobre isso agora?

Muitas vezes, os desejos de avôs e avós são reduzidos às suas necessidades e essas necessidades a necessidades de saúde. Além disso, um sinal de fragilidade e dependência pode ser interpretado como perda de agência sobre si. Essa era uma reclamação dos participantes da minha pesquisa. Eles tinham medo de que, deixando transparecer algum declínio natural do envelhecimento, pudessem ser vistos como incapazes para administrar suas vidas por inteiro. Não por acaso, alguns escondiam suas dores dos filhos e preferiam contar com os amigos em idas a médicos e exames.

Então esse texto é para te dizer: nesse Natal, seja o meu avô para os seus avós ou parentes idosos.

Pergunte o que eles realmente querem, quais seus desejos. Talvez eles não saibam dizer. Alguns participantes da minha pesquisa diziam que, com o passar dos anos, eles sabiam muito bem do que não gostavam; mas do que gostavam… isso eles ainda estavam descobrindo. E isso lá é problema? Ao contrário, participar com eles dessa descoberta, com escuta e empatia, pode ser em si um presente.

E se for comprar algo online, uma dica: convide sua pessoa idosa para acompanhar a compra. Ensine-a como funciona e como comprar com segurança. Assim ela não precisa esperar o próximo Natal para realizar seus próprios desejos.